Escrever é algo solitário, uma
atividade feita pela pessoa que escreve e uma página em branco à
sua frente (de caderno, de computador, de bloco de notas, etc). A
maior parte das vezes. Porque a escrita também pode ser
colaborativa, compartilhada, como uma atividade em grupo. Você deve
estar pensando aí, com seus botões: “mas se escrever sozinho já
é complicado, imagina em grupo!”. Bem, eu não estou dizendo que é
fácil, mas sim, que é válido. E pode ser uma atividade bastante
enriquecedora.
Vejamos: o processo de escrita
começa mais ou menos assim: vem uma ideia à cabeça, essa ideia é
desenvolvida mentalmente, depois se escreve e, durante a escrita, ela
é retrabalhada até que sai o texto primordial. Depois disso, ele
pode ou não ser reescrito algumas vezes. É uma generalização,
claro. Eu mesmo nem sempre sigo esse processo, às vezes eu começo a
escrever e depois que vem a ideia. Estou apenas dando um exemplo que
acredito ser o processo comum do processo de escrita.
Não sendo uma regra de criação,
é possível que haja outras maneiras de ser produzir um texto
(escrito nesse caso, tá gente? Mas poderia ser qualquer outro) e um
dos modos que trato nesse texto aqui é o compartilhado ou
colaborativo. Tem diferença? Creio que não, mas se tiver, por
favor, me ilumine com ela nos comentários. Será um prazer retificar
e acrescentá-la aqui.
Esse tipo de escrita envolve mais de um autor
ou, pelo menos, mais de uma pessoa, ainda que o texto possa ser de
autoria de uma única. O que está em jogo aqui é o processo
criativo em si e não quem coloca as palavras alinhadas umas com as
outras.
É na discussão e
compartilhamento do que está sendo escrito que reside a diferença.
No texto compartilhado, a autora ou o autor da ideia original começa
a escrever seu texto. Assim que escreve algumas linhas ou parágrafos,
passa a outra pessoa, que lê e dá uma resposta positiva ou não
sobre o que foi escrito, inclusive com algumas sugestões. Não é
exatamente uma crítica do texto, tampouco uma avaliação no estilo
acadêmico. É como se o autor “medisse a febre” da sua produção
e adaptasse (ou não) de acordo com a temperatura recebida.
Explicando de outra forma: faz-se um texto
e pede-se a amigos/colegas/cobaias que leiam o texto. Esses leitores
irão marcar passagens em que a pessoa que escreveu disse algo que,
de alguma forma, tenha chamado a atenção. Esse
feedback
daria ao autor do texto uma ideia de como seu texto afeta o leitor e
o que pode ser melhorado em um processo de escrita livre. A esse
processo é dado o nome de Inkshedding.
E por que eu disse que é uma
escrita colaborativa? Porque acredito que, ao fazer isso, a pessoa
autora do texto “permite” que outrem também tenham uma certa
parte na criação de seu texto. Não com a concepção da ideia ou
como ela foi passada pro papel, mas ajudando a desenvolvê-la, a
lapidá-la até ficar no ponto.
Acredito que está é uma ótima
forma de desenvolver o processo de escrita e até mesmo desinibir
aqueles que ainda se sentem travados quando têm que escrever.
Compartilhar é uma prática que pede um certo desprendimento, o que
ajuda a “libertar” a (o) escritora ou escritor que vive em você.